Pesquisadores da Embrapa Criam Gelatina a partir da Pele de Tambaqui Ainda sem avaliações.

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A Revolução da Gelatina: Inovação a partir da Pele de Tambaqui

Pesquisadores da Embrapa encontraram uma alternativa inovadora para substituir a gelatina convencional, comumente desenvolvida a partir do couro bovino e suíno. Utilizando a pele do tambaqui (Colossoma macropomum), um peixe nativo brasileiro de grande relevância econômica, os cientistas obtiveram sucesso em produzir uma gelatina de alta qualidade, com aplicações diversas na indústria alimentícia e farmacêutica.

A pele, as escamas e a cabeça do tambaqui, que geralmente são utilizadas para a fabricação de ração para peixes, agora ganham um novo destino. A gelatina produzida a partir desses resíduos apresenta propriedades que a tornam útil para a fabricação de filmes, microcápsulas para medicamentos, espessantes, entre outros. Além de agregar valor ao produto, essa iniciativa contribui para a redução de resíduos, promovendo uma economia mais sustentável.

Piscicultura em Crescimento no Brasil

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Imagem de JB por Pixabay

A produção de peixes no Brasil tem crescido substancialmente, impulsionada por pesquisas e projetos como o BRS Aqua, coordenado pela Embrapa. De acordo com o Anuário da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR 2022), a produção nacional de pescado aumentou 45% desde 2014. A tilápia é a espécie mais produzida, representando 65% da produção, seguida pelo tambaqui, com mais de 30% da produção total de espécies nativas.

O projeto BRS Aqua conta com apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Secretaria Nacional de Aquicultura e Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Mais de 240 empregados de 23 unidades da Embrapa e mais de 60 parceiros, públicos e privados, estão envolvidos nessa iniciativa.

Sustentabilidade e Inovação na Cadeia Produtiva

Segundo o pesquisador Manuel Antônio Jacintho, da Embrapa Pecuária Sudeste, até 50% das matérias-primas iniciais de certas espécies de peixes são descartadas, incluindo cabeças, carcaças, pele e escamas. A conversão desses resíduos em produtos de valor, como a gelatina, torna a cadeia produtiva mais sustentável. Jacintho destaca o grande potencial de exploração das propriedades tecnológicas dos resíduos da cadeia pesqueira.

O tambaqui é o peixe nativo mais produzido no Brasil, e sua pele possui características que a tornam uma excelente matéria-prima para a produção de gelatina. De acordo com Fernanda Ramalho Procópio, bolsista CNPq de pós-doutorado na época do estudo, a composição de aminoácidos da gelatina de pele de tambaqui é mais rica do que a de peixes de água fria. Além disso, a força de gel (consistência) da gelatina de tambaqui é comparável à das gelatinas bovina e suína.

Propriedades da Gelatina de Pele de Tambaqui

Diversos fatores interferem na composição da pele do peixe, como espécie, idade, sexo e tipo de alimento. No caso do tambaqui, a pele possui maior teor de proteína (27,10 ± 0,02) e menor teor de gordura (1,17 ± 0,08) em comparação com outras espécies. Isso resulta em um rendimento de extração de gelatina de quase 60%. Os principais aminoácidos encontrados na gelatina de tambaqui são glicina, prolina e hidroxiprolina, responsáveis pela firmeza do gel.

A gelatina extraída da pele de tambaqui apresentou rendimento de aproximadamente 53%, com poder de gelificação adequado e baixa turbidez. A temperatura de gelificação observada foi de 16 °C, similar à da gelatina bovina comercial (17 °C). A força de gel foi de 123 ± 20 gramas, classificando-a como Bloom médio, e sua aparência esbranquiçada, inodora e sem turbidez atende aos requisitos comerciais.

Potencial de Aplicação da Gelatina de Tambaqui

Com Bloom médio, a gelatina de pele de tambaqui é adequada para diversos produtos, incluindo a clarificação de bebidas e a produção de cápsulas moles. O alto teor de aminoácidos sugere que a pele do tambaqui também pode ser uma valiosa fonte de peptídeos de colágeno, embora esse não tenha sido o foco principal do estudo.

Manuel Jacintho explica que a exploração dos resíduos do tambaqui contribui para o desenvolvimento de uma economia circular na indústria de processamento de pescado, aumentando a renda do produtor e reduzindo o impacto ambiental.

As características da gelatina de tambaqui a tornam promissora para a produção de micropartículas, filmes e hidrogéis. A sequência desse trabalho já está em andamento, com pesquisas focadas na aplicação desse material na produção de filmes para embalagens de alimentos.

Conclusão

A inovação na produção de gelatina a partir da pele de tambaqui representa um avanço significativo para a indústria alimentícia e farmacêutica, além de promover a sustentabilidade na cadeia produtiva de pescado.

A Embrapa, por meio de suas pesquisas e projetos, continua a desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de soluções que agregam valor aos produtos brasileiros, fortalecendo a economia e preservando o meio ambiente.

O estudo sobre a gelatina de tambaqui, publicado na revista internacional Journal of Aquatic Food Product Technology, é um exemplo de como a ciência pode transformar resíduos em recursos valiosos, beneficiando produtores, consumidores e o planeta.

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Foto / reprodução: Fernanda Ramalho Procópio / Embrapa

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