Conheça o habitat, as características e os motivos que colocam a raia-viola na lista de espécies criticamente ameaçadas de extinção
A raia-viola, cientificamente conhecida como Pseudobatos horkelii, é uma espécie que desperta crescente preocupação entre ambientalistas, pesquisadores e comunidades pesqueiras brasileiras. Endêmica da região sudoeste do Oceano Atlântico, essa espécie de elasmobrânquio — um grupo que inclui também os tubarões — encontra-se hoje em risco crítico de extinção. A situação é especialmente alarmante no sul do Brasil, onde populações já colapsaram em áreas tradicionalmente abundantes, como as proximidades do litoral gaúcho.
Embora seja pouco conhecida do público geral, a raia-viola possui grande relevância ecológica e cultural. Seu desaparecimento acarreta impactos negativos na cadeia alimentar marinha, além de evidenciar o desequilíbrio ambiental causado pela sobrepesca e pela degradação de habitats. Neste artigo, exploraremos em profundidade o habitat da espécie, suas principais características biológicas e os fatores que levaram à sua condição de ameaça crítica, com foco em informações obtidas em centros de pesquisa como a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Distribuição geográfica e habitat
A Pseudobatos horkelii é uma espécie costeira que habita predominantemente o litoral do sul e sudeste do Brasil, especialmente entre os estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. No entanto, estudos recentes indicam que a concentração mais relevante da espécie se dava entre o litoral gaúcho e o norte do Uruguai — zona historicamente rica em biodiversidade marinha e amplamente explorada pela pesca artesanal e industrial.
A raia-viola prefere fundos arenosos e lodosos em profundidades que variam de 10 a 60 metros, embora possa ser encontrada em áreas mais rasas durante o período reprodutivo. Durante os meses de verão, desloca-se para águas costeiras com o objetivo de se reproduzir, o que a torna extremamente vulnerável à captura incidental por redes de arrasto e emalhe.
Pesquisadores da UFRGS apontam que a redução do seu habitat natural, somada à pressão pesqueira intensa ao longo das últimas décadas, contribuiu significativamente para o colapso populacional da espécie. Com isso, a perda de áreas de desova e crescimento compromete ainda mais a capacidade de recuperação da espécie.
Características morfológicas e comportamentais
A raia-viola possui um corpo achatado e um rostro (nariz alongado) característico que lhe confere uma aparência intermediária entre tubarões e raias. A coloração varia entre o marrom-acinzentado e tons mais claros no ventre, permitindo excelente camuflagem no fundo do mar.
Adultos podem alcançar até 140 centímetros de comprimento total. A espécie é vivípara, ou seja, os embriões se desenvolvem dentro do corpo da fêmea até o nascimento. Um dos aspectos mais delicados da biologia da raia-viola é sua baixa taxa reprodutiva: fêmeas geram em média apenas 4 a 6 filhotes por gestação, o que limita sua capacidade de reposição populacional.
Além disso, a maturidade sexual é tardia, ocorrendo geralmente após os quatro anos de idade. Isso significa que a captura de indivíduos jovens compromete severamente o ciclo reprodutivo. As interações ecológicas da espécie com outros organismos também são complexas. Como predadora bentônica, alimenta-se de pequenos peixes, crustáceos e moluscos, contribuindo para o equilíbrio da fauna demersal.
Ameaças à sobrevivência da espécie
Entre os principais fatores que colocam a raia-viola à beira da extinção, destaca-se a pesca predatória. Mesmo não sendo alvo direto das frotas comerciais, é frequentemente capturada como bycatch (captura acidental), sobretudo em redes de arrasto, método amplamente utilizado no litoral sul do Brasil.
Estudos realizados pela UFRGS e por organizações como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) indicam que a captura de Pseudobatos horkelii teve seu auge nas décadas de 1980 e 1990. Desde então, a população sofreu uma queda estimada em mais de 90%, o que motivou sua inclusão na lista da IUCN como “criticamente em perigo”.
Outro fator agravante é a poluição dos ecossistemas costeiros. A descarga de efluentes industriais, a ocupação desordenada do litoral e a destruição de áreas de desova são aspectos que agravam a vulnerabilidade da espécie. Combinados, esses elementos formam um cenário de colapso ecológico iminente.
Iniciativas de conservação e desafios
Apesar dos alertas emitidos por cientistas há mais de duas décadas, as ações efetivas de conservação ainda são incipientes. A legislação brasileira proíbe a captura da espécie, mas a fiscalização é falha. Muitos pescadores, por desconhecimento ou necessidade econômica, continuam a comercializar os exemplares capturados incidentalmente.
Há iniciativas pontuais de monitoramento e sensibilização, como o Projeto Raias do Brasil, além de programas desenvolvidos em parceria com universidades, incluindo a UFRGS, que realiza levantamentos populacionais e análises genéticas para entender melhor a biologia da espécie.
Contudo, para que essas ações surtam efeito, é fundamental o engajamento de diferentes atores sociais, incluindo órgãos governamentais, setor pesqueiro e sociedade civil. É imprescindível a implementação de áreas marinhas protegidas e a promoção de práticas pesqueiras mais seletivas e sustentáveis.
Conclusão
A raia-viola é muito mais do que uma curiosidade biológica: trata-se de um indicador vital da saúde dos ecossistemas marinhos brasileiros. Seu desaparecimento em diversas regiões do sul do Brasil é um sintoma claro da degradação dos ambientes costeiros e da falta de políticas efetivas de gestão pesqueira.
A complexidade do problema exige uma abordagem integrada e urgente. A recuperação da Pseudobatos horkelii depende de ações coordenadas que envolvam pesquisa científica, educação ambiental, fiscalização efetiva e alternativas econômicas viáveis para as comunidades que dependem da pesca.
Ignorar a trajetória de colapso da raia-viola é negligenciar não apenas uma espécie, mas todo um sistema ecológico interligado, cujos efeitos — se não forem contidos — podem ser irreversíveis. Preservá-la é um passo necessário para garantir o equilíbrio ambiental e a sustentabilidade dos recursos marinhos para as gerações futuras.
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