Um dos peixes mais antigos do planeta, com hábitos fascinantes e importância ecológica e econômica
A lampreia marinha (Petromyzon marinus) é uma das criaturas mais enigmáticas e primitivas que ainda habitam os ecossistemas aquáticos do Hemisfério Norte. Com um corpo semelhante ao de uma enguia e uma boca circular repleta de dentes córneos, esse peixe sem mandíbula pertence ao grupo dos ciclóstomos, representando uma linhagem que remonta a mais de 340 milhões de anos. Sua aparência peculiar, que lembra a de um “vampiro aquático”, e seu ciclo de vida complexo despertam tanto fascínio quanto preocupação, especialmente em regiões onde se tornou uma espécie invasora.
Encontrada em diversas regiões da Europa e América do Norte, a lampreia marinha é anádroma, ou seja, realiza migrações entre ambientes marinhos e de água doce para completar seu ciclo de vida. Durante sua fase adulta, adota um comportamento parasitário, alimentando-se do sangue de outros peixes, o que pode causar impactos significativos em populações de espécies comerciais. Por outro lado, em países como Portugal, é considerada uma iguaria culinária, sendo alvo de pescarias tradicionais.
Neste artigo, exploraremos detalhadamente as características morfológicas, habitat, alimentação, reprodução e o valor comercial da lampreia marinha, oferecendo uma visão abrangente sobre esse peixe fascinante e suas implicações ecológicas e econômicas.
Características morfológicas: um design ancestral adaptado à sobrevivência
A lampreia marinha possui um corpo alongado e cilíndrico, podendo atingir até 120 cm de comprimento e pesar cerca de 2,3 kg . Sua pele é lisa, sem escamas, e rica em glândulas mucosas que secretam uma substância viscosa, conferindo-lhe uma aparência escorregadia. A ausência de nadadeiras pares e a presença de duas nadadeiras dorsais próximas são características distintivas desse peixe.
A cabeça apresenta uma boca circular em forma de ventosa, equipada com múltiplos dentes córneos dispostos em círculos concêntricos, além de uma língua raspadora cartilaginosa. Essa estrutura bucal especializada permite que a lampreia se fixe firmemente aos hospedeiros e penetre sua pele para se alimentar de sangue e fluidos corporais .
Internamente, a lampreia marinha possui um esqueleto cartilaginoso e uma coluna vertebral incompleta, composta principalmente por notocorda. Seus olhos são bem desenvolvidos, mas carecem de músculos oculares intrínsecos, e apresenta sete pares de aberturas branquiais localizadas atrás dos olhos.
Habitat e distribuição: uma jornada entre rios e oceanos
A lampreia marinha é nativa do Oceano Atlântico Norte, encontrando-se ao longo das costas da Europa e América do Norte, incluindo o Mar Mediterrâneo Ocidental e o Mar Negro . Durante sua fase larval, habita rios de água doce, onde permanece enterrada em sedimentos finos, como areia e lodo, alimentando-se por filtração de matéria orgânica.
Após a metamorfose, os juvenis migram para o mar, onde passam de um a dois anos como parasitas de peixes marinhos. Posteriormente, retornam aos rios para se reproduzir, completando seu ciclo de vida anádromo. Em Portugal, por exemplo, a espécie é encontrada em diversas bacias hidrográficas, como as dos rios Minho, Douro e Tejo .
No entanto, a introdução da lampreia marinha em ambientes onde não é nativa, como os Grandes Lagos da América do Norte, resultou em impactos ecológicos significativos, devido à predação de espécies de peixes comerciais e à ausência de predadores naturais .
Alimentação: um parasita eficiente e voraz
Durante sua fase larval, a lampreia marinha, conhecida como ammocoete, alimenta-se por filtração de partículas orgânicas suspensas na água, como detritos e micro-organismos. Essa fase pode durar de três a sete anos, dependendo das condições ambientais .
Após a metamorfose, a lampreia adquire sua característica boca em forma de ventosa e passa a se alimentar de forma hematófaga, fixando-se a peixes hospedeiros e raspando sua pele com a língua dentada para acessar o sangue e os fluidos corporais. Além disso, secreta uma enzima anticoagulante que impede a coagulação do sangue da presa, permitindo uma alimentação contínua .
Estudos indicam que uma única lampreia marinha pode matar até 40 kg de peixes durante sua fase parasitária, o que representa uma ameaça significativa para populações de peixes comerciais, como trutas e salmões .
Reprodução: um ciclo de vida semélparo e estratégico
A reprodução da lampreia marinha ocorre em rios de água doce, geralmente entre abril e junho. Os machos constroem ninhos em áreas de fundo arenoso ou pedregoso, com corrente moderada, onde as fêmeas depositam entre 30.000 e 100.000 ovos . A fertilização é externa, e tanto machos quanto fêmeas morrem após a desova, caracterizando um ciclo de vida semélparo.
Os ovos eclodem após três a oito semanas, liberando as larvas ammocoetes, que se enterram no sedimento e iniciam a fase de alimentação por filtração. Após vários anos, sofrem metamorfose, desenvolvendo as características adultas e migrando para o mar para iniciar a fase parasitária.
Esse ciclo de vida complexo e adaptativo permite que a lampreia marinha explore diferentes nichos ecológicos ao longo de sua existência, contribuindo para sua resiliência e sucesso evolutivo.
Valor comercial e importância cultural: entre a iguaria e a praga
Em algumas regiões da Europa, especialmente em Portugal, a lampreia marinha é considerada uma iguaria culinária de alto valor. Pratos tradicionais, como o “arroz de lampreia” e a “lampreia à bordalesa”, são apreciados durante a temporada de pesca, que ocorre entre janeiro e abril. A pesca da lampreia é regulamentada e representa uma atividade econômica importante para comunidades ribeirinhas .
Por outro lado, em áreas onde foi introduzida, como os Grandes Lagos da América do Norte, a lampreia marinha é considerada uma espécie invasora e praga ecológica. Sua presença tem causado declínios significativos em populações de peixes nativos e comerciais, levando à implementação de programas de controle e erradicação, como o uso de lampricidas e barreiras físicas para impedir sua migração .
Essa dualidade ressalta a importância de compreender o contexto ecológico e cultural ao avaliar o impacto e o valor da lampreia marinha em diferentes regiões.
Conclusão
A lampreia marinha (Petromyzon marinus) é um exemplo notável de resiliência e adaptação evolutiva, sobrevivendo por centenas de milhões de anos com um conjunto de características morfológicas e comportamentais únicas. Seu ciclo de vida anádromo, alimentação parasitária e reprodução semélpara refletem estratégias complexas que lhe conferem sucesso em diversos ambientes aquáticos.
No entanto, sua presença pode ter implicações ecológicas e econômicas contrastantes, sendo valorizada como iguaria em algumas culturas e considerada praga em outras. A compreensão aprofundada de sua biologia, ecologia e impacto é essencial para a conservação de ecossistemas aquáticos e o manejo sustentável de recursos pesqueiros.
Ao estudar a lampreia marinha, não apenas exploramos a história evolutiva dos vertebrados, mas também enfrentamos desafios contemporâneos de conservação e gestão de espécies, destacando a necessidade de abordagens integradas e contextualizadas.
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