Por que alguns pesqueiros não permitem o uso de linha multifilamento
Entenda os motivos técnicos, ambientais e operacionais por trás dessa regra comum em pesqueiros de tambaqui, pacu e carpas
Em muitos pesqueiros do Brasil, principalmente aqueles voltados à pesca esportiva de espécies fortes como tambaqui, pacu e diferentes tipos de carpas, é comum encontrar uma regra clara logo na entrada: proibido o uso de linha multifilamento. Para alguns pescadores, especialmente os mais iniciantes ou vindos da pesca com iscas artificiais, essa restrição parece exagerada ou até injustificada. No entanto, quando analisamos o funcionamento de um pesqueiro, o comportamento dessas espécies e os impactos diretos do multifilamento nesse ambiente controlado, os motivos se tornam bastante claros.
A linha multifilamento possui características técnicas extremamente vantajosas em diversas modalidades de pesca. Ainda assim, essas mesmas qualidades podem se transformar em problemas sérios quando aplicadas em pesqueiros comerciais. Questões como segurança dos peixes, preservação do local, custo operacional, bem-estar dos pescadores e até a sustentabilidade do negócio entram em jogo. Por isso, entender os motivos dessa proibição ajuda não apenas a respeitar as regras, mas também a melhorar a própria experiência de pesca.
Ao longo deste artigo, você vai entender de forma detalhada por que tantos pesqueiros optam por liberar apenas o uso de linha monofilamento ou fluorcarbono, especialmente em ambientes onde tambaquis, pacus e carpas são os principais alvos.
O que diferencia a linha multifilamento das demais
A linha multifilamento é composta por vários filamentos sintéticos trançados, geralmente fabricados a partir de fibras como Dyneema ou Spectra. Essa construção confere à linha uma altíssima resistência, mesmo com diâmetros muito finos, além de praticamente nenhuma elasticidade. Essas características fazem com que ela seja extremamente sensível, permitindo que o pescador perceba qualquer toque ou movimentação do peixe.
Por outro lado, linhas monofilamento possuem elasticidade natural, maior diâmetro proporcional à resistência e um comportamento mais previsível em situações de tranco. Em ambientes naturais, como rios e lagos abertos, a multifilamento se destaca. Porém, em pesqueiros, onde há grande concentração de peixes e estruturas artificiais, essa diferença técnica passa a ter impactos negativos relevantes.
Além disso, a multifilamento tem alta durabilidade e não se degrada facilmente, o que aumenta seu potencial de causar danos prolongados quando rompida dentro do lago.
Risco elevado de ferimentos em tambaquis, pacus e carpas
Um dos principais motivos para a proibição do multifilamento em pesqueiros está diretamente ligado ao bem-estar dos peixes. Espécies como tambaqui e pacu possuem bocas extremamente fortes, com placas ósseas e dentes adaptados à trituração. Quando fisgados com multifilamento, que não possui elasticidade, o impacto da fisgada e dos arranques é transferido integralmente para a boca do peixe.
Isso aumenta consideravelmente o risco de:
- Cortes profundos nos lábios
- Rasgos na região bucal
- Lesões permanentes que dificultam a alimentação
- Ferimentos que infeccionam com facilidade
No caso das carpas, especialmente carpas cabeçudas e carpas comuns, o problema se agrava porque são peixes frequentemente devolvidos ao lago após a captura. Ferimentos causados por multifilamento reduzem drasticamente a taxa de sobrevivência desses peixes no pós-soltura, comprometendo o equilíbrio do pesqueiro.
Já o monofilamento, por possuir elasticidade, atua como um amortecedor natural, reduzindo impactos bruscos e minimizando danos físicos.
Cortes em nadadeiras e no corpo dos peixes soltos
Outro problema recorrente está relacionado às linhas rompidas dentro do lago. Quando um peixe escapa levando metros de multifilamento, essa linha permanece ativa por muito tempo, flutuando ou se enroscando em estruturas submersas. Peixes que nadam livremente podem acabar se enroscando nessas linhas, sofrendo cortes profundos nas nadadeiras, no pedúnculo caudal ou até no corpo.
Como o multifilamento é extremamente resistente e fino, ele age como uma lâmina quando submetido à tração. Em ambientes com grande densidade de peixes, como pesqueiros comerciais, esse risco se multiplica rapidamente.
Linhas monofilamento, por outro lado, tendem a degradar-se com o tempo e apresentam menor capacidade de corte, reduzindo o impacto quando ocorrem perdas.
Segurança dos pescadores e funcionários do pesqueiro
A proibição do multifilamento também está ligada à segurança das pessoas. Em pesqueiros, é comum a proximidade entre pescadores, o compartilhamento de plataformas e o uso de suportes de vara alinhados lado a lado. Caso uma linha multifilamento arrebente sob tensão, ela pode retornar com força extrema, causando cortes graves.
Há registros frequentes de:
- Cortes profundos nos dedos
- Lesões nas mãos ao tentar segurar o peixe
- Acidentes com crianças e iniciantes
- Cortes em funcionários durante limpeza do lago
O monofilamento, mesmo quando rompe, apresenta menor risco, pois sua elasticidade dissipa parte da energia acumulada.
Dificuldade de controle durante a briga com peixes grandes
Tambaquis e pacus são conhecidos por seus arranques explosivos, enquanto carpas realizam corridas longas e constantes. A ausência de elasticidade do multifilamento torna a briga mais difícil de controlar, especialmente para pescadores menos experientes.
Isso gera problemas como:
- Excesso de força aplicada ao peixe
- Maior número de rompimentos
- Danos ao equipamento
- Stress excessivo no animal
Em um pesqueiro, onde a proposta muitas vezes é lazer, aprendizado e pesca consciente, o monofilamento oferece um controle mais progressivo e previsível da briga.
Danos às estruturas do pesqueiro
Pesqueiros possuem diversas estruturas submersas ou semi-submersas, como:
- Aeradores
- Tubulações
- Ilhas artificiais
- Redes de contenção
- Cercas internas
- Estruturas de madeira ou concreto
O multifilamento, ao se enroscar nesses elementos, é extremamente difícil de remover. Muitas vezes, funcionários precisam entrar na água para cortar linhas, o que gera risco operacional e custo adicional. Além disso, linhas trançadas podem danificar aeradores e bombas, afetando diretamente a qualidade da água.
Esse tipo de manutenção constante eleva o custo do pesqueiro e impacta a experiência de todos os frequentadores.
Preservação da qualidade da pesca ao longo do tempo
Pesqueiros trabalham com equilíbrio biológico e financeiro. Cada peixe ferido, perdido ou morto representa prejuízo direto. Quando o uso de multifilamento gera mais danos aos peixes, o resultado é uma queda gradual na qualidade da pesca.
Peixes machucados:
- Alimentam-se menos
- Tornam-se mais ariscos
- Apresentam menor crescimento
- Reduzem a taxa de captura futura
Ao restringir o uso de multifilamento, o pesqueiro garante maior longevidade aos peixes, melhor desempenho nas pescarias e um ambiente mais saudável para todos.
Padronização das regras e justiça entre os pescadores
Outro ponto relevante é a igualdade de condições. O multifilamento oferece vantagens claras em sensibilidade e resistência, o que pode gerar desequilíbrio entre pescadores utilizando equipamentos diferentes. Ao padronizar o uso de monofilamento, o pesqueiro garante que a pesca seja mais justa e baseada em técnica, leitura de água e escolha correta de isca.
Isso é especialmente importante em pesqueiros que recebem:
- Famílias
- Crianças
- Iniciantes
- Eventos recreativos
- Competições internas
Alternativas permitidas e recomendadas
A maioria dos pesqueiros que proíbe multifilamento permite:
- Linha monofilamento de boa qualidade
- Fluorcarbono como linha principal ou líder
- Bitolas compatíveis com o porte dos peixes
Essas opções oferecem resistência suficiente para enfrentar grandes tambaquis, pacus e carpas, sem comprometer a segurança e a integridade do ambiente.
Conclusão
A proibição do uso de linha multifilamento em pesqueiros não é uma regra arbitrária, mas sim uma decisão baseada em segurança, preservação dos peixes, redução de custos operacionais e manutenção da qualidade da pesca. Em ambientes controlados, com alta densidade de peixes fortes como tambaquis, pacus e carpas, o monofilamento se mostra muito mais adequado, equilibrando desempenho, controle e cuidado com o ecossistema.
Ao compreender esses motivos, o pescador passa a enxergar essa regra não como uma limitação, mas como parte de um sistema que garante diversão, sustentabilidade e boas capturas por muito mais tempo. Respeitar as normas do pesqueiro é, acima de tudo, uma forma de valorizar a pesca esportiva responsável.
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