Pescaria Brava: história, curiosidades e origem do nome dessa praia catarinense

Um território antigo, marcado pela força dos pescadores e pela tradição açoriana

Poucos lugares em Santa Catarina carregam um nome tão emblemático quanto Pescaria Brava, município que combina história profunda, cenários naturais preservados e uma cultura pesqueira que atravessa séculos. Embora tenha conquistado a emancipação apenas em 2003, suas raízes remontam a mais de trezentos anos, quando imigrantes portugueses e açorianos começaram a ocupar as margens do Complexo Lagunar de Laguna.

Ao longo desse tempo, a comunidade desenvolveu uma identidade própria, moldada pela agricultura, pela pecuária, mas sobretudo pela pesca artesanal — atividade que não apenas influenciou seu desenvolvimento econômico como cimentou o nome que viria a marcar definitivamente o município.

Por isso, ao abordar a cidade para o blog Pescaria S/A, o olhar se volta tanto à construção histórica quanto à cultura pesqueira, às lagoas que sustentam ecossistemas ricos e às tradições das famílias que vivem dessa prática há gerações.

Origem do nome: quando o vento, o mar e os pescadores escrevem a mesma história

O nome Pescaria Brava não surgiu por acaso, e diversas versões populares reforçam esse simbolismo. A mais antiga e amplamente aceita destaca a coragem dos pescadores que enfrentavam ventos fortes, mar revolto e mudanças bruscas de tempo no Complexo Lagunar. Esses cenários eram comuns em períodos de instabilidade climática, principalmente durante o inverno, quando a pesca da tainha movimentava toda a região. As embarcações menores, geralmente canoas ou botes de madeira, desafiavam a força das marolas e exigiam habilidade extrema dos pescadores, que passaram a ser reconhecidos como “bravos na pescaria”. Outra versão, mais folclórica, sugere que a prática de dividir o pescado — sobretudo quando as capturas eram fartas — costumava gerar discussões acaloradas entre os grupos de pescadores, levando o povoado a ser apelidado de “terra de pescaria brava”, em referência às brigas e disputas que marcavam algumas noites pós-trabalho.

As raízes históricas: um dos povoados mais antigos de Santa Catarina

Em 15 de maio de 1857, o distrito foi oficialmente reconhecido pela Assembleia Legislativa Provincial, recebendo o nome de Bom Jesus do Socorro, antigo título administrativo antes de se consolidar como Pescaria Brava. No entanto, a comunidade já existia muito antes disso. Registros apontam que a região recebeu colonos portugueses há mais de 300 anos, e posteriormente famílias de origem açoriana, alemã, italiana e africana, formando um dos núcleos populacionais mais antigos do estado.

Sua evolução administrativa foi longa e marcada por batalhas políticas. Após o primeiro plebiscito fracassado em 1995, a emancipação só se concretizou em 2003, depois de intensa mobilização popular e jurídica. Esse caminho tortuoso fez da cidade um símbolo de persistência — característica condizente com sua própria origem ligada à valentia dos pescadores.

Personagens históricos de grande relevância

Ao longo dos séculos, Pescaria Brava registrou acontecimentos marcantes no contexto sulista brasileiro. Há relatos da presença de revoltosos na Revolução Farroupilha em 1839, reforçando a participação local em eventos de importância nacional. Entre seus filhos ilustres está Jesuínho Lamego da Costa, almirante nascido na comunidade de Laranjeiras, que atuou na Guerra do Paraguai e assumiu funções de destaque no Império. Outro nome marcante é Clito Antônio de Araújo, soldado da Força Expedicionária Brasileira morto em combate na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.

O município que nasceu da insistência dos moradores

Mesmo após o plebiscito de 1995 falhar por falta de quórum, a população não desistiu. Em 2003, nova votação confirmou a vontade de autonomia e resultou na criação oficial do município. A emancipação enfrentou ainda uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, posteriormente arquivada pelo STF. Somente em 2012 ocorreram as primeiras eleições municipais, marcando o início de uma nova história administrativa para a cidade.

A pesca em Pescaria Brava: tradição, técnica e um dos melhores camarões do estado

Para um blog de pesca, Pescaria Brava não é apenas um município histórico: é um ponto estratégico para quem aprecia pescarias em lagoas, especialmente no entorno do Complexo Lagunar de Laguna. A região reúne condições ideais para espécies como tainha, corvina, linguado, robalo, bagre, traíra e anchova, além de mostrar diversidade de ambientes com águas calmas, margens rasas e acesso facilitado por antigas rotas pesqueiras dos moradores.

Pesca no Complexo Lagunar: tainha, corvina e linguado como protagonistas

Entre os meses de outono e inverno, a cidade ganha vida com a temporada da tainha, que movimenta toda a cadeia pesqueira. É comum observar pescadores artesanais utilizando redes de cerco, tarrafas e pequenos barcos para capturar lotes que abastecem toda a região. Já na primavera e verão, a corvina torna-se o grande destaque, sendo capturada tanto da beira quanto embarcada. O linguado, por sua vez, é tradicional na pesca com isca natural, enquanto robalos e traíras são procurados por pescadores esportivos que preferem iscas artificiais.

O prestígio do camarão bravense

Outro ponto notável é a produção de camarão — considerada uma das melhores de Santa Catarina — resultado de águas abrigadas, clima favorável e técnicas de cultivo aprimoradas pelos produtores locais. Além do cultivo, a pesca artesanal de camarão na lagoa é parte essencial da cultura regional e movimenta famílias inteiras há muitas gerações.

Modalidades comuns na região

Os pescadores encontram grande variedade de estilos adequados ao ambiente, como:

• Pesca de tarrafa em margens rasas;
• Pesca embarcada com varas leves e médias;
• Pesca de rede para espécies de passagem;
• Pesca esportiva com plugs e soft baits para robalo;
• Pesca de fundo com camarão vivo, corrupto e minhoca de praia para corvinas;
• Pesca noturna, muito produtiva para espécies migratórias.

Economia, população e cultura: o que molda o cotidiano bravense

A economia de Pescaria Brava está apoiada especialmente na agricultura familiar, pecuária, produção de farinha, pequenas malharias e indústrias de móveis. No entanto, a pesca continua desempenhando papel central — tanto no abastecimento local quanto na manutenção da identidade cultural da comunidade. Segundo o IBGE, no ano da emancipação a cidade contava com cerca de 9.687 habitantes, número que se mantém relativamente estável, preservando o caráter interiorano e tradicional do município.

Quadro comparativo: pesca artesanal x pesca esportiva em Pescaria Brava

Conclusão

Pescaria Brava é um município que honra suas origens e carrega no próprio nome a essência da vida pesqueira: coragem, tradição e resistência. Desde seus primeiros colonizadores enfrentando ventos desafiadores nas lagoas, até a moderna comunidade que combina pesca artesanal, cultivo de camarão e práticas esportivas, a cidade se mantém fiel à identidade que a distingue no litoral catarinense.

Ao compreender sua história, suas lutas políticas e sua forte relação com o ambiente natural, fica claro por que Pescaria Brava atrai pescadores, visitantes e apaixonados por destinos autênticos. Trata-se de um território em que a pesca não é apenas atividade econômica, mas parte fundamental da alma do lugar — e continuar contando essa história reforça o papel do pescador na construção cultural de Santa Catarina.

Fontes consultadas:
Câmara de Pescaria Brava: https://www.camaradepescariabrava.sc.gov.br/imprensa/institucional/0/1/0/6
IBGE: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/pescaria-brava/historico

Imagem destacada: Galeria de Fotos – Prefeitura de Pescaria Brava